Khalifa al-Khoder, um jovem muçulmano sírio de 21 anos de idade, decidiu continuar morando em Aleppo apesar da tensão permanente que pesa sobre a cidade. Dilacerada entre as zonas “legalista” e “rebelde” e sujeita a constantes bombardeios, a antiga capital econômica da Síria é hoje um campo de ruínas.
Khalifa al-Khoder nasceu em Raqqa, onde a situação é pior ainda. O jovem, que continuava viajando entre as duas cidades, relata ao jornal francês L’Orient Le Jour: “Depois de cada ida e volta, eu notava as mudanças radicais: todos os muros tinham sido pintados de preto. O número de [milicianos] estrangeiros não parava de aumentar”.
Em uma de suas viagens, Khalifa foi preso e submetido a severos interrogatórios em uma prisão regida por regras sinistras: “A oração é obrigatória, senão você é torturado. As refeições são servidas duas vezes por dia. A cada quarenta dias, eles nos davam uma navalha que tinha que servir para cinco presos. Se alguém raspava a barba totalmente, era levado para a sala de tortura. Nós devíamos raspar só o bigode, entre as pernas e debaixo dos braços”.
Khalifa al-Khoder começou a fazer desenhos em sua cela. Entre eles, um era a Virgem Maria, a quem ele vê como “mensagem de paz”. Os jihadistas descobriram o desenho e ficaram furiosos: “Você lambe os pés dos nazarenos (cristãos)?”.
Torturado, o jovem confessou ao mesmo tempo o desenho e outro “crime” imaginário: ele teria fotografado os soldados do Exército Sírio Livre. Khalifa al-Khoder foi condenado à morte, mas depois perdoado por Abu Bakr El Baghdadi, o pseudo-califa do pseudo-Estado. Mantido preso, ele descobriu que, mesmo “perdoado”, um prisioneiro como ele já tinha sido executado.
Khalifa al-Khoder então tentou fugir. E conseguiu. O jovem que, no inferno, desenhou e recorreu à Virgem Maria agora sonha em se tornar jornalista e, principalmente, em escrever com liberdade a sua própria história.
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