Anunciação e Paixão de Cristo
Este ano a Sexta-feira Santa cai na mesma data da Anunciação: 25 de março. Essa coincidência aconteceu apenas 11 vezes desde o ano 1700, ou seja, a cada 141 anos. Quando ela acontece, a liturgia da Igreja sobrepõe a Sexta-feira Santa à Anunciação, cuja festa é adiada para outra data. Este ano (2016), portanto, a Solenidade da Anunciação será celebrada no dia 4 de abril.
Há algumas curiosidades sobre essa coincidência de datas, que vale a pena conhecer. Na Idade Média havia um best seller escrito pelo Arcebispo de Gênova, o dominicano Jacopo de Varazze. O livro afirmava que a Anunciação e a Crucificação, bem como outros eventos bíblicos, aconteceram no dia 25 de março. Essa afirmação da Legenda Áurea foi baseada em escritos Patrísticos, a partir de Tertuliano de Cartago, que escreveu que Jesus foi crucificado “no mês de março, no tempo da Páscoa, no oitavo dia antes das calendas de abril” (Contra os judeus, 8). No calendário romano, as calendas eram os primeiros dias do mês. Segundo esse escrito, se Jesus foi crucificado oito dias antes das calendas de abril, então isso teria acontecido oito dias antes do 1º de abril, ou seja, no dia 25 de março.
CONTROVÉRSIAS:
Alguns estudiosos, porém, apontam que Tertuliano se equivocou, porque os quatro Evangelhos concordam em que Jesus foi crucificado em uma sexta-feira de Páscoa, durante o governo de Pôncio Pilatos (depois do 15º ano de Tibério César). Mas nenhuma das sextas-feiras de Páscoa, durante os anos indicados, caíram em 25 de março. Outro argumento contrário faz referência a uma antiga crença judaica de que os profetas e outros santos homens teriam morrido no mesmo dia em que nasceram – ou que foram concebidos -, e assim não teria fundamento e nem seria recomendável propagar o 25 de março como sendo o dia da morte do Senhor.
Permanece o fato de que vários escritores da Igreja primitiva e historiadores afirmaram que a Paixão do Senhor teria acontecido nesse dia. Entre eles:
- o já mencionado Tertuliano (+222), em seu Contra os Judeus (PL 2, col. 614);
- Orósio (+418), em sua História contra os Pagãos (PL 31, col. 1.059, livro 7);
- Cassiodoro (+580), em sua Crônica (PL 69, col. 1.228); e
- Sulpício Severo (+420), em sua História Sagrada (PL 20, col. 144).
Santo Agostinho de Hipona, em seu livro Sobre a Trindade (Livro IV, Capítulo 5) escreve:
Existe a crença de que ele foi concebido a 25 de março e no mesmo dia sofreu a paixão.
Assim o sepulcro novo onde foi colocado, onde ninguém havia sido sepultado nem haveria de ser (Jo 19, 41), é como o seio virginal onde foi concebido e onde sêmen algum humano foi depositado. Diz a tradição que nasceu no dia 25 de dezembro. Portanto, de 25 de março a 25 de dezembro contam-se duzentos e setenta e seis dias, número em que é o seis repetido quarenta e seis vezes. Nesse número de anos foi construído o templo, porque nesse número multiplicado por seis adquiriu a perfeição o corpo de Cristo que, destruído na paixão, ressuscitou três dias depois.
Um reforço a esta crença na coincidência das datas da Anunciação e da Paixão do Senhor se dá de maneira extraordinária, com as sagradas relíquias da Coroa de Espinhos. São três tipos de manifestações:
- a revitalização: quando o espinho tem alguma gota de sangue seco, e esse sangue revive em determinadas circunstâncias, tornando-se vermelho vivo. Há 24 casos desse tipo, contabilizados e autenticados na Itália.
- a florescência: quando os espinhos florescem.
- o reverdecimento: quando os espinhos se tornam flexíveis como de uma planta viva.
Esses milagres, comprovados e documentados, acontecem geralmente nas Sextas-feiras Santas que coincidem com o 25 de março. Acontecem também em outras Sextas-feiras Santas, e às vezes permanecem durante meses.
De fato, não é necessário sabermos a data exata de um fato bíblico para crermos nele. Mas algumas especulações e possibilidades nos intrigam e nos levam a meditar mais profundamente nos mistérios de Deus!
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