Em terras não muito distantes um grande amor envolvia em seus laços um príncipe e sua amada. Ele precisou partir para muito longe, mas voltaria um dia. Dura batalha o esperava. Era preciso salvar o reino de seu Pai. No encontro de despedida, no último abraço, ele deixou nas mãos de sua amada um delicado presente: uma linda rosa vermelha. E lhe segredou com voz carregada de intensa emoção: "Devo partir, voltarei um dia para levá-la comigo. Toma esta rosa. Ela jamais perderá seu viço e sua beleza. Deves guardá-la com carinho. Tua saudades, no contato com ele, se transformará em esperança. Terá teus olhos fixos no futuro e viverás com alegria, aguardando o dia de nossas núpcias definitivas". O noivo partiu. Nas mãos da noiva ficou a rosa vermelha, da cor do manto do príncipe. Sempre que a saudade começava a tomar ares de tristeza, ela estreitava a rosa no seu peito e sentia-se reavivar-se por dentro o calor do afeto de seu amado, como quando ele a abraçava. A rosa era guardada num relicário de ouro e nunca perdeu seu viço e a força de renovar-lhe a esperança. Aquelas pétalas estavam tomadas pela magia do amor e lembravam o manto graças ao qual ela o reconhecia quando, ainda longe, lhe vinha ao encontro.
Você é parte dessa noiva e sempre de novo reaviva a saudades do príncipe que deu a vida por você, em dura batalha. Ele, antes de partir, deu-nos Seu Corpo e Seu Sangue, como a memória de seu amor-entrega, para enlaçar-nos sempre mais em sua ternura sustentando-nos na esperança do encontro definitivo. A Igreja tem todos os dias, todos os instantes em suas mãos esse presente no qual o Senhor se esconde e se doa a ela em ato de infinito amor para que ele dEle viva em vida abundante. Na festa de Corpus Christi revivemos, festiva e publicamente, este extraordinário acontecimento. Proclamamos pela rua de nossa cidade que Ele vive e está no meio de nós e que nós O encontramos singularmente presente nos sinas do pão e do vinho consagrados. Todos s domingos - muito de nós todos os dias - nós O aclamamos exclamando: "Anunciamos, Senhor, a Vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus". A Eucaristia é memorial, memória da morte de Jesus, anuncio de Sua ressurreição e esperança de Seu retorno.
Ele, antes de sofrer, em ato de infinito amor e em desejo de continuar conosco, tomou o pão e disse: "TOMAI E COMEI, ISTO É MEU CORPO, QUE É ENTREGUE POR VÓS"; e depois: "TOMAI E BEBEI, ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE, SANGUE DA NOVA E ETERNA ALIANÇA, DERRAMADO POR VÓS E POR TODOS PARA A REMISSÃO DOS PECADOS". Sempre que ouvimos essas palavras lembramo-nos de que Ele deu a vida por nós; mais ainda, fazemos a experiência de tê-Lo conosco no ato de doar-se ao Pai pela nossa salvação e nos deixamos envolver por esse amor que chega até nós, nos conduz ao Pai e nos congrega como irmãos em um só corpo.
Santo Tomás assim se refere a esse dom: "Seu corpo, Ele ofereceu a Deus Pai como sacrifício no altar da cruz, para nossa reconciliação; seu sangue, Ele o derramou ao mesmo tempo como preço de nosso resgate e purificação de todos os nossos pecados. Mas, a fim de que permanecesse sempre entre nós o memorial de tão imenso benefício, Ele deixou aos fieis, sob as aparências de pão e vinho, seu corpo como alimento e seu sangue como bebida." E mais adiante: "Ninguém seria capaz de expressar a suavidade deste sacramento; nele se pode saborear a doçura espiritual em sua própria fonte; torna-se presente a memória daquele imenso e inefável amor que Cristo demonstrou para conosco em Sua Paixão". E ainda: "A eucaristia é o memorial perene de Sua Paixão, o cumprimento perfeito das figuras da Antiga Aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou. É, ainda, singular conforto que Ele deixou para os que se entristecem com sua ausência". Santo Tomás afirma ser a Eucaristia o maior de todos os milagres. Milagre, invenção de amor. A substância do pão e do vinho não pôde resistir a tão infinito amor e se converteu no Corpo e no Sangue do Senhor. Vestido com a roupagem de pão e de vinho, Ele é nossa vida e nos alimenta no caminho, que sejamos totalmente transfigurados por Sua presença gloriosa.
Reflexão de Dom Eduardo Benes sobre a divina Eucaristia
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