Sobreviveu a bombas, ao disparo de morteiros e esteve em cativeiro durante nove dias. Torturaram-no e queimaram-lhe o corpo com pontas de cigarros. Nem água lhe deram... Desses nove dias de horror, o Padre Douglas gosta de lembrar apenas as dez argolas das algemas que lhe prendiam as mãos:
“Foi o mais belo rosário que já rezei em toda a minha vida.”
Essas algemas, que foram colocadas para lhe prender os movimentos, libertaram-lhe o espírito.
“Tinham exatamente dez argolas.”
Os algozes podiam bater-lhe, queimar-lhe o corpo, gritar-lhe ao ouvido, privá-lo de comida e de água. Podiam até ameaçar-lhe a vida, encostando – como fizeram tantas e tantas vezes – o cano de uma pistola à cabeça, premindo depois o gatilho, como num fuzilamento: “Pac”. Fizeram-lhe isso tudo e nunca repararam, nem podiam reparar, que os dedos do Padre Douglas iam acariciando as argolas das algemas, numa oração ininterrupta de Aves-Marias. Batiam-lhe no corpo mas não podiam prender-lhe a alma.
O Padre Douglas vive hoje em Ankawa. Ele é um refugiado entre refugiados. Como milhares de cristãos também teve de fugir de Mossul perante o avanço dos jihadistas do “Estado Islâmico”. Apesar de tudo o que já passou, dos dias de cativeiro, das bombas que rebentaram perto de si, da explosão de morteiros junto à igreja enquanto celebrava Missa, das cicatrizes que guarda no corpo, apesar de tudo isso, o Padre Douglas tem apenas uma preocupação: ajudar o povo cristão a sobreviver a estes dias de provação.
“Esta é uma Igreja de sangue. Pertenço a uma Igreja que pode ser chamada de sangue. No meu país, se alguém fizer um buraco para procurar petróleo, vai descobrir sangue de cristãos. Porém, o petróleo é mais caro do que o sangue dos mártires.”
Nestes dias de pavor, o Padre Douglas tenta consertar vidas, fazendo verdadeiros milagres com o pouco que tem.
“Os Cristãos, no Iraque, vivem permanentemente numa Sexta-feira Santa. Rezem por nós, ajudem-nos, salvem-nos!”
As suas palavras são um verdadeiro grito de ajuda.
“Se têm algum poder e vontade para salvar o meu povo, por favor, não parem. Façam alguma coisa. Por favor, salvem-nos!”
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