SANTO AGOSTINHO E A HUMANIDADE

Homilia do Frei Heliodoro Fernandez, na Festa de Santo Agostinho

Igreja de Santa Mônica no Rio de Janeiro - 28.08.2014

Agostinho, Aurélio Agostinho, O Bispo de Hipona, Doutor da Igreja, ‘O mais santo entre os sábios e o mais sábio entre os santos’. Ele é um dos maiores pensadores e expoentes do pensamento da Filosofia e Teologia cristãs de todos os tempos. Agostinho continua presente por meio dos muitos escritos seus que tanto contribuíram em favor da fé e doutrina da Igreja em todas as épocas da História. Ele está presente, também, por meio das diversas ramas de Ordens Agostinianas masculinas e femininas e também das Fraternidades de leigos. Presente, também, através muitos centros de Ensino, Colégios e Faculdades espalhados por todos os continentes. Quem mais, quem menos, todos conhecemos algo da vida de Santo Agostinho: as condições de vida na época em que viveu, a família, a sociedade. Agostinho, mais do que pecador, foi um coração inquieto na procura incansável da verdade, da liberdade, da interioridade, da amizade, da felicidade e da Humildade. É a respeito desta virtude, a Humildade que vamos refletir. No mundo pagão a humildade era desconhecida. Nenhum dos antigos filósofos ensinava esta virtude, pois relacionavam-na com a ignorância e com a pobreza. Humildade, no pensar deles, era tudo quanto se opunha ao ideal da fama e do prestígio. A humildade cristã tem seus fundamentos no Antigo Testamento, onde o homem, diante de Deus, é considerado como pó e cinza. A humildade torna o homem mais aberto à esperança da salvação, que só pode vir de Deus. 

Com o aparecimento do cristianismo a humildade adquire um significado religioso. Para o verdadeiro cristão a chave para o conhecimento de si mesmo está na humildade e no conhecimento da dependência que o ser humano tem de Deus. O exemplo de Cristo durante toda a sua vida culminou com o ato de serviço lavando os pés dos seus discípulos, colocando-se como modelo a imitar por todos os seus seguidores. “O Cristo se humilhou para que nós aprendêssemos a ser humildes.” Não confundamos; humildade não é humilhação. Portanto, o desafio que temos como cristãos é de termos a humildade. Vemos, com o exemplo de Cristo, que a humildade não é fruto da ignorância nem da pobreza, mas da coragem de um Deus que com seu imenso amor se humilhou para nos salvar... Consultado por um dos seus seguidores sobre qual o melhor caminho para a perfeição, Agostinho respondeu: “O caminho é: primeiro, a humildade; segundo, a humildade; terceiro, a humildade; e quantas vezes me perguntares, outras tantas direi a mesma coisa”. Agostinho fez da humildade um estilo de vida numa forma de ser e de relacionar-se consigo, com Deus e com os demais. Este foi o caminho que Agostinho percorreu para chegar à conversão do coração. 

A humildade é a virtude mais destacada por Agostinho e a mais praticada por ele. Um dos seus estudiosos, Van de Meer, chegou a afirmar: “A virtude que Agostinho praticou em grau heroico foi sem dúvida a humildade. Esse homem, orgulhoso por natureza, encantador por seu caráter sugestivo e comunicativo tornou-se Santo em virtude da sua humildade”. Para Santo Agostinho a humildade nada tem haver com a ignorância, a pobreza e atitudes fingidas. Ela não consiste em humilhar-se, mas em valorizar-se na medida justa. “Conhecer-se a si mesmo é uma verdadeira ciência; ciência que o ser humano está chamado a alcançar. Que eu me conheça a mim mesmo e que eu te conheça, Senhor”. Este é o perfeito e verdadeiro conhecimento de que com Deus podemos tudo e sem Ele nada somos. “Só quem se reconhece doente é que sente a necessidade do médico. A humildade é o caminho da misericórdia e do perdão que nos coloca diante do irmão com um olhar de compreensão e de acolhida e nos faz recuperar a saúde e a paz interior”. “Para chegar à perfeição é essencial começar pela humildade, porque ela é a base sobre a qual se fundamenta o edifício da caridade; e ela é a melhor forma de consegui-la e de conservá-la”. 

Para Agostinho: “Onde há humildade lá está Cristo. Cristo e a humildade são inseparáveis. Portanto, onde há humildade há bons frutos; e onde ela está ausente, está presente o orgulho, que transforma tudo em deserto”. ‘Imitar Cristo, manso e humilde de coração, há de ser o distintivo dos seguidores d’Ele’. 

“A humildade é a base de todo edifício humano e cristão. Quanto maior é o edifício que quisermos construir, maiores hão de ser seus alicerces. Se quisermos um grande edifício espiritual, ponhamos primeiro o alicerce da humildade. Quanto mais aprofundares nos fundamentos, mais alto poderá ser o edifício”. 

Nós, seguidores de Cristo, temos que imitá-lo em tudo, e especialmente na Humildade para entrarmos, no fim da caminhada, no seu Reino de Glória. Para concluir, nada melhor que a palavra de Agostinho no comentário ao Salmo 77: “Sejamos humildes. Se ainda não tivermos humildade, procuremo-la. Se a tivermos, não a percamos. Se não a tivermos, peçamo-la para ser engajados; se a tivermos retenhamo-la para não sermos excluídos”.